Há dois anos, o agricultor Anselmo Coelho da Silva (60) vem
plantando de uma forma diferente. Além do tradicional milho
e
feijão, usados para consumo familiar, a
plantação
dele agora também conta com outras culturas como o
algodão, gergelim, amendoim e melancia, o que lhe garante
uma
renda extra. A prática, que vem sendo incentivada pela
Embrapa
Algodão, é conhecida como plantio em
consórcios
ecológicos.
Anselmo é um dos 15 moradores do assentamento Zé
Macolino
- localizado em Serrote Agudo, comunidade que fica entre os
municípios de Prata, Sumé e Amparo, na
Paraíba
– que fazem parte do projeto "Consórcios
Agroecológicos com o Algodoeiro para a
Produção
Sustentável de Óleo, Pluma Orgânica,
Ração Animal e Alimentos pela Agricultura
Familiar no
Semiárido Nordestino". O projeto visa demonstrar que
é
possível desenvolver a cultura do algodão em
consórcio com outras culturas para produzir, processar e
comercializar diversos derivados, favorecer a
produção de
alimentos e beneficiar o meio ambiente.
Antes de conhecer o projeto Anselmo plantava, sem nenhum
critério, apenas milho e feijão. “Hoje,
além
do algodão, eu planto milho, feijão, gergelim,
amendoim,
melancia e gerimum. Cada um no seu canto, na sua faixa. Há
dois
anos, a gente plantava tudo misturado. Agora não, cada um
tem
seu lugar”, conta Anselmo.
O consórcio é plantado em faixas, pois ajuda a
controlar
pragas. “Nós aconselhamos que para cada cinco
faixas de
algodão, sejam plantados cinco faixas de outras culturas.
Quanto
mais diversificado for o consórcio, melhor para o controle
de
pragas”, explica o pesquisador da Embrapa Algodão
e um dos
coordenadores do projeto, Fábio Aquino.
O projeto trabalha toda a cadeia do algodão; desde como
preparar
a terra, com equipamentos adequados, até a
comercialização. Os produtos passam pelo processo
de
certificação para que possa ser comercializado no
chamado
“fair trade”, ou comércio justo. Assim,
além
de manter a sua segurança alimentar, o agricultor melhora a
terra em que trabalha e é bonificado com um preço
diferenciado, pois negocia diretamente com os empresários,
excluindo a função do atravessador.
Anselmo confirma que o consórcio agroecológico
ajudou na
sua plantação e ainda melhorou a renda familiar.
“Mudou muito nossas vidas depois do projeto. Os alimentos a
gente
mesmo consome, já o algodão a gente vende.
Esperamos
produzir até o fim deste ano, 500 quilos de
algodão, o
que deve nos render uns 800 reais”, completa.
Dominando a
cadeia de
produção
Como
ação desenvolvida
pelo projeto, os técnicos da Embrapa Algodão
vêm
ministrando cursos de formação e
reuniões com
agricultores para assinatura do contrato a fim de comercializar as
produções. "A estratégia é
que todos tenham
conhecimento do contrato e se sintam parte do processo de
comercialização da venda da pluma
orgânica para o
mercado orgânico e comércio justo, e que neste
momento
sirva, também, de motivação para a
continuidade da
caminhada em produzir algodão em bases
sustentáveis",
disse Felipe Macedo, um dos técnicos responsáveis
pelas
ações. Esse processo de sentir-se parte da
comercialização visa a
apropriação por
parte dos agricultores de toda a cadeia produtiva do algodão
agroecológico.
Assim, o conhecimento dos pesquisadores e dos técnicos se
soma
aos conhecimentos dos agricultores. Entre eles existem ainda os
multiplicadores – agricultores da própria
comunidade que
participam e acompanham os processos de aprendizagem com mais
intensidade. Estes são responsáveis por difundir
as
técnicas que devem ser aplicadas no campo. Além
disso,
existe um processo de educação ambiental, no qual
são repassados conhecimentos sobre práticas
conservacionistas, manejo de insetos, como fazer e aplicar
biofertilizantes, caldas e outros defensivos naturais.
O projeto é financiado pelo Fundo Internacional para o
Desenvolvimento da Agricultura (FIDA) pelo e Global Environment
Facility-GEF, através do Ministério do
Desenvolvimento
Agrário (MDA), sob a coordenação geral
do Projeto
Dom Helder Camara (PDHC) e coordenação
técnica da
Embrapa Algodão e do Esplar, ONG do Estado do
Ceará que
vem trabalhando com agroecologia desde 1983. Tem como parceiros a
Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Ceará
(SDA-CE),
a Empresa de Assistência Técnica e
Extensão do
Ceará (Ematerce), além de outras ONG’s.
Desenvolvido há três anos, o projeto
Consórcios
Agroecológicos com o Algodoeiro conta atualmente com cerca
de
500 famílias. E esse número vem crescendo. No
assentamento Zé Maculim, por exemplo, existem 86
famílias. Destas, apenas 8 participavam do projeto, hoje
já são 15 famílias beneficiadas, que
assim como
Seu Anselmo, vêm redescobrindo como plantar, ganhar dinheiro
e
ajudar o meio ambiente.
Edna Santos - (Jornalista – Embrapa Algodão/
MTB-CE 01700 JP)
Colaboração: Mayara Dantas (Estagiária)
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