Pesquisadores da Embrapa Algodão participaram no
último
dia 26 de junho, em Catuti (MG), de um dia-de-campo sobre o
cultivo do algodão transgênico. O evento
é parte de
um projeto chamado “Retomada da Cultura do Algodão
no
Norte de Minas”, desenvolvido sob
coordenação da
Associação Mineira dos Produtores de
Algodão
(AMIPA), com apoio da Associação Brasileira de
Produtores
de Algodão (Abrapa), Emater-MG, Epamig, com financiamento do
Banco do Nordeste e Banco do Brasil.
“Trata-se de projeto de transferência de tecnologia
e que
atende atualmente a 63 produtores que cultivam algodão em
cerca
de 300 hectares. O projeto tem como meta alcançar
área
produtiva de 1.000 hectares para o ano de 2010”, explica o
pesquisador José Ednilson Miranda.
Miranda diz que na região existe uma área piloto
de cinco
hectares com algodão irrigado cultivada com
algodão Bt
Bollgard I (cultivar Nu Opal), cuja produtividade estimada é
de
320 arrobas de algodão em caroço por hectare.
“Este
cultivo teve a semeadura efetuada no dia 17 de fevereiro e
deverá ser colhido na primeira quinzena de julho,
totalizando um
ciclo de 135 dias, portanto, bastante precoce. Esta precocidade parece
estar associada ao clima semi-árido da região e
à
irrigação complementar, o que possibilitou um
adequado
suprimento hídrico para o bom desenvolvimento das plantas
”, detalha.
Ele observa que, em função do clima,
não há
problemas fitossanitários relacionados a doenças.
Mesmo a
ramulária, à qual a cultivar utilizada
é altamente
suscetível, não manifestou incidência
sobre a
cultura. “O controle de pragas é minimizado pelo
uso da
cultivar transgênica resistente a insetos Bollgard I.
Entretanto,
ataques frequentes de Spodoptera frugiperda forçam o
produtor a
efetuar entre quatro a seis aplicações de
inseticidas
para contenção da população
do inseto.
Some-se a estas duas ou três aplicações
para
controle de percevejos migrantes de leguminosas e têm-se o
total
de seis a nove pulverizações”, diz
Miranda.
Segundo a Embrapa Algodão, o custo de
produção
desta área deve ser em torno de R$ 3.000,00, pelos
levantamentos
junto aos produtores, incluindo gastos com
irrigação.
“Supondo a produtividade de 320 arrobas por hectare de
algodão em caroço, significando algo em torno de
120
arrobas de algodão em pluma por hectare e com os
preços
praticados atualmente, de R$38,00 a arroba de pluma, tem-se um
rendimento bruto de R$4.560,00/ha. Se acrescermos o valor de R$1.030,00
referente à venda do caroço (quantidade de 2.400
kg com
cotação de R$430,00 a tonelada), tem-se o total
de
R$5.590,00/ha, ou seja, resultando num lucro líquido de
R$2.590,00 por hectare. O excelente rendimento denota o potencial de
produtividade deste sistema de
produção”, avalia o
pesquisador.
Segundo a Embrapa, as demais áreas de algodão da
região, com algodão de sequeiro e menor
adoção de insumos, está muito
aquém daquela
produtividade e rendimento. Trata-se de áreas que produzem
entre
30 e 100 arrobas de algodão em caroço por
hectare,
resultado de déficit hídrico durante o cultivo,
bem como
carência de fertilização adequada e
todo o manejo
efetuado na cultura. “Evidente que o custo de
produção é mais baixo, estimado em
cerca de mil
reais por hectare, entretanto o resultado financeiro não
é nada entusiasmador. Além disso, o produtor
é
tão descapitalizado que depende totalmente do governo para a
obtenção do mínimo de insumos,
incluindo a
semente, para poder plantar”, comenta Ednilson Miranda.
A Embrapa Algodão iniciou ações de
colaboração com agricultores familiares, visando
ao
desenvolvimento da cotonicultura do algodão na
região do
Norte de Minas, através de trabalhos de
transferência de
tecnologia e de pesquisas de suporte àquele modelo de
produção. Na parte de transferência de
tecnologia
já está sendo avaliado pelo Better Cotton
Iniciative
(BCI), um projeto que envolve ações de
transferência de tecnologia para agricultures familiares de
Goiás, Paraíba e Minas Gerais, cuja
coordenação está sob a
responsabilidade do
analista Waltemilton Cartaxo, pela Embrapa Algodão, e do
técnico da Amipa, José Tibúrcio de
Carvalho.
“Demandas de pesquisa existem, tendo como um dos problemas
atuais
a ocorrência de cochonilha como praga potencial, sendo que o
pesquisador Carlos Alberto Domingues da Silva já desenvolve
estudos sobre a praga em região próxima, no Vale
do Iuiu,
que fica a cerca de 120 km de Catuti”, relata Miranda. Ele
ressalta que o impacto da tecnologia Bt (em breve Bt2) é
outro
tema que merece a atenção da Embrapa.
O pesquisador diz que há uma real possibilidade de
modificação do status de pragas
secundárias para
primárias, em função do nicho
ecológico
disponibilizado pelas pragas-alvo da transgenia. “Isto
é
um problema que já ocorreu na China, em 2004, em lavouras
Bt,
onde a não adoção de medidas de
refúgio,
por exemplo, está permitindo a determinadas
espécies
elevarem sua densidade populacional ao ponto de causar danos
econômicos nas lavouras transgênicas”,
informa o
especialista.
“Evidente que a transgenia é uma ferramenta
importante na
redução do número de
pulverizações,
o que diminui o custo de produção e a
contaminação ambiental com inseticidas,
entretanto seu
uso deve ser monitorado a fim de se evitar outras formas de
desequilíbrio de populações de
insetos”, diz
o entomologista da Embrapa Algodão.
O dia-de-campo contou com a presença de várias
autoridades, entre elas o deputado federal Márcio Reinaldo,
o
prefeito de Catuti, Hélio Pinheiro da Cruz, representantes
do
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastacimento,
Emater, Epamig, Banco do Brasil, Banco do Nordeste etc.