A
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) formou nos
últimos dias um grupo emergencial de trabalho, formado por
pesquisadores das áreas de entomologia e taxonomia, para avaliar
a ocorrência de lagartas, especialmente da espécie Helicoverpa zea, nas culturas da soja, milho e algodão no Oeste baiano.
Participam especialistas da Embrapa Cerrados, Algodão, Soja,
Milho e Sorgo e Arroz e Feijão, tanto da área de
pesquisa, quanto de Transferência de Tecnologia. “A
ocorrência impactante dessa lagarta nesta região
não pode ser encarada como consequência de uma causa
isolada”, afirma a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Silvana
Moraes.
De acordo com os especialistas que fazem parte desse grupo, relatos
colhidos na região na última semana demonstram que os
produtores estão adotando práticas que, em menor ou maior
grau, acabam favorecendo a ocorrência da praga. O grupo esteve na
quinta-feira (21) nas regiões de Correntina e Roda Velha (BA)
realizando visitas técnicas aos grupos J&H Sementes e
Horita. O objetivo foi ouvir dos empresários qual está
sendo o impacto dessas pragas especialmente nas culturas de soja e
algodão. Os custos totais para controle da lagarta na
região já chegam a quase 500 milhões de reais, de
acordo com dados fornecidos pela consultoria agronômica Kasuya.
“O nosso sistema agrícola precisa ser discutido e
remodelado. A solução deste problema está em
nossas mãos. Só depende de nossas atitudes, especialmente
depois desse evento”, afirmou o produtor rural Celito Missio,
durante o Fórum Regional sobre Helicoverpa. O evento, realizado
na sexta-feira (22), em Luís Eduardo Magalhães (BA),
contou com a participação do grupo de pesquisadores da
Embrapa e reuniu mais de mil pessoas, entre produtores, especialistas,
estudiosos, consultores e estudantes. Essa participação
em peso reflete como essa praga tem prejudicado a
produção de grãos em diversas lavouras. As
culturas mais afetadas na região são soja, milho,
algodão, além do feijão, sorgo e milheto.
Durante o Fóum, o entomologista Paulo Degrande, da Universidade
Federal da Grande Dourados (UFGD), apresentou uma proposta de plano de
manejo regional da praga envolvendo vários aspectos do manejo
integrado de pragas. “Esse plano precisa ser cooperativo,
coletivo e de ampla adesão”, enfatizou Degrande. Foram
propostas diversas medidas, dentre elas destaque para o estabelecimento
do vazio sanitário na região no período de 20 de
agosto a 20 de outubro, calendário de plantio para culturas como
milho, soja e algodão e adoção de 20% de
áreas de refúgio.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Algodão, José
Ednilson Miranda, escolhido entre os pesquisadores para falar no evento
em nome da Embrapa, o momento é desafiador e deverá
contar com o comprometimento total de todos os envolvidos.
“Estamos aqui para colaborar. As medidas de ação
propostas estão em sintonia com a filosofia da Embrapa e tenho
certeza que serão assimiladas pelos produtores”, destacou.
Produtor de soja e milho, Roberto Pelizzaro concorda ser preocupante a
situação dessa praga na região. As medidas
adotadas por ele, no entanto, são preventivas, já que em
sua lavoura não há ocorrência da lagarta.
“Estou usando doses mais altas de inseticidas, mais por medo do
que por necessidade”, contou. A propriedade dele também
foi visitada pelo grupo de especialistas da Embrapa como um exemplo de
boas práticas agrícolas. Uma das características
dela são as faixas de Cerrado preservadas entre as quadras de
plantio. “Assim, estou conservando a população de
inimigos naturais das pragas. Fica um sistema mais equilibrado. A
natureza é perfeita e se adapta todos os dias. A gente tem que
ficar de olho nela para sofrer menos”, ensinou.
Ações de pesquisa - segundo os pesquisadores que
participam do grupo de trabalho, é consenso de que há
realmente a necessidade de que sejam implementadas ações
de pesquisa que contemplem o controle de pragas dentro dos
princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP) com uma abordagem
não só em uma única cultura ou propriedade, mas de
caráter regional.
“Essa abordagem de manejo de pragas envolve a
avaliação do agroecossistema, tomada de decisão e
escolha de medidas de controle”, destacou a pesquisadora Silvana
Moraes. Segundo ela, a Embrapa tem muito a contribuir, especialmente
com ações de pesquisa que possam antever aspectos do
manejo de pragas no contexto de plantas transgênicas Bt que
vão além da ocorrência do gênero Helicoverpa.
Juliana Caldas (4861/DF)
Embrapa Cerrados
juliana.caldas@embrapa.br
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