A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), via diversos
pesquisadores e professores, recentemente publicou um documento, que
foi divulgado em vários meios de
comunicação do
Brasil e do exterior, colocando as possíveis
conseqüências do chamado
“Aquecimento
Global“, em especial do “Efeito
Estufa” no
ambiente do Brasil, em especial da região Nordeste, com
ênfase ao semi-árido. O referido documento traz
estudos e
cenarização sobre as
conseqüências dos
efeitos do aquecimento global da atmosfera na
saúde humana
e animal, nas plantas e no ambiente como um todo, incluindo
as
possíveis migrações de pessoas em
massa para
outras regiões com menos problemas de água e de
temperatura elevada. O documento tem a
denominação
geral de “Diálogos da Terra”.
Por conta da divulgação do referido documento,
passamos,
nos últimos dias, cerca de três
horas, falando
para jornalistas e repórteres de vários jornais
do
Nordeste, via telefone, alguns com gravação. De
uma
maneira geral, respondemos às perguntas dizendo que
são
cenários, porém que podem se transformar em
realidade,
caso a humanidade não mude, em especial no tocante
à
malha energética do planeta, que hoje, de um modo geral, na
média de todos países (mais de 200) é
de mais de
90% de combustíveis fósseis,
extremamente
poluentes, como o petróleo, o carvão mineral (Na
China
atual, que já consome mais de 10 milhões de
barris de
petróleo por dia, sendo que cada um tem 159 litros, e que 6
a 8
deles tem uma tonelada, que ao ser transformada em energia gera para a
atmosfera 3,4 toneladas de CO2, uma usina de
produção de
energia movida a carvão mineral é inaugurada por
semana)
e o gás natural, que também é muito
poluente,
tendo na sua composição mais de 80% do
hidrocarboneto
metano.
Hoje o mundo esta consumindo cerca de 90 milhões
de barris
de petróleo por dia, fora o carvão mineral e o
gás
natural, ou seja tudo é movido a petróleo e a
atmosfera
esta sendo incrementada em 1,5 ppm de CO2 por ano (um ppm equivale a
mais de 2,00 bilhões de toneladas de CO2 que são
colocadas na atmosfera por ano) e as conseqüências
são o incremento do efeito estufa, com o
conseqüente
aquecimento do planeta, e o aumento da acidez da
água do
mar, com a formação de acido carbônico,
conseqüente morte dos corais, um dos
nascedouros do
mar, 72 % da superfície do nosso planeta.
As previsões do incremento da temperatura media da Terra
são catastróficas, pois espera-se, caso
não se
mude logo a malha energética do planeta,
incrementos de
mais de 2 graus até 2035, o que não é
nada no
tempo para a humanidade. Há previsões de
incremento de
até 5 graus até 2100, o que
significará a
saída de todos nós daqui do Nordeste devido a
elevada
temperatura e a falta extrema de água, pois a
evaporação irá aumentar muito e assim
reduzir ao
extremo os mananciais de água da região Nordeste.
Na perspectiva de incremento de dois ou mais ºC na temperatura
média do ar, máximas e mínimas,
haverá um
forte incremento da demanda do ar, aumentando a perda de
água
por evaporação da água dos solos e dos
mananciais
e pela transpiração via estômatos das
plantas e
assim redução do uso eficiente da
água, que
já é escassa na atualidade.
No semi-árido brasileiro, que envolve mais de 900.000
Km²
nos nove estados do Nordeste, mais o norte de Minas Gerais e uma parte
do Espírito Santo, a média da
precipitação
pluvial é de 650 mm, variando de 250 mm, como em Cabaceiras
(PB), município próximo de Campina Grande, onde
chove
menos no Brasil, a até mais de 950 mm, dependendo
também
do ano, e a evaporação é de mais de
2000 a 2500
mm, fazendo com que aliado a irregular
distribuição das
chuvas, e pouco tempo de precipitação, ocorre
dentro de 3
a 4 meses por ano, faz com que nas áreas mais secas (14%
é árida e mesmo no semi-árido)
não se tenha
armazenamento de água no solo e nem muito menos
excedente
hídrico, sendo que o balanço hídrico
mensal em
qualquer mês do ano seja negativo.
Em geral a temperatura já é elevada e a umidade
relativa
do ar também, que faz com que o potencial hídrico
do ar
seja muito elevado, do ponto de vista negativo, chegando a mais de 1600
bars, na região do Seridó e na região
do
Sertão, nos meses mais secos, tais como outubro e
novembro, antes do inicio das chuvas.
O potencial hídrico do ar é determinado via
temperatura e
umidade relativa do ar, pela equação ψar
= RT / vw ln
UR % / 100, onde T é a temperatura absoluta (273 + a
temperatura
em graus centígrados, R e a constante dos gases perfeitos,
valor
tabelar, Vw volume molar da água, valor tabelar e
UR
é a umidade relativa do ar em %, sendo que quanto maior a
temperatura e menor a umidade relativa do ar, maior o potencial de
água e assim maior a demanda evoparativa do ar, e assim
maior o
gasto de água. (1,0 Bar de pressão ou
tensão, que
é negativa, pressão ao contrário,
equivale a quase
uma atmosfera, e a uma coluna de água de 10,33
metros e lembrando que um solo na capacidade de campo, a
água esta a 0,1 a 0,3 bar de tensão, sendo a
planta
submetida a um elevado gradiente de pressão negativa ou
tensão).
Com a elevação da temperatura do ar,
haverá
incremento da respiração celular e da
fotorrespiração das plantas de metabolismo
fotossintético C3, ou ineficientes, casos do
feijões Phaseolus e Vigna (o feijão
macassar, a
base protéica das populações rurais do
Nordeste e
boa parte da urbana), caso do algodão e caso da mamona,
além de outras tais como girassol e arroz, e assim
o saldo
fotossintético irá cair muito, e pode tais
plantas nem se
quer mais produzir, pois poderão apresentar coeficiente
fotossintético igual a um, ou menos, o que significa a morte
de
tais sistemas biológicos vegetais.
Essas plantas gastam mais água para produzir uma mesma
quantidade de fitomassa em relação as
plantas
C4 além de outras grandes desvantagens
fisiológicas
e bioquímicas, como a competição pelo
NADPH + H e
o ATP formado na fotossíntese para reduzir o
CO2 com
a redução do Nitrogênio, cuja parte das
reações também ocorrem nos
cloroplastos.
Tais plantas chegam a gastar
até um quilo de
água para produzir um grama de fitomassa, contra menos de
400 g
nas plantas C4, caso do sorgo, milho em condições
de
ótimo ecológico e a cana de
açúcar.
Nas plantas C3, a enzima que faz a carboxilação
do CO2,
denominada de RUBISCO, ou ainda Carboxi Dismutase ou ainda Difosfato
Carboxilase, que é oligomérica, tendo uma das
cadeias
polipeptídicas produzidas pelo gene do Cloroplasto e outra
pelos
genes da planta, ditos nucleares, tem baixa afinidade pelo CO2, sendo
também oxigenase, e assim com o incremento dos
níveis de
CO2, poderá ter incremento da fotossíntese bruta,
devido
a redução da
fotorrespiração, que
representa uma desassimilação do CO2, um processo
bioquímico complexo que envolve várias organelas
celulares, tais como os cloroplastos, mitocôndrias e
peroxissomas, e tem o glicolato como substrato e somente ocorre nos
órgãos verdes da planta, na luz e quanto mais luz
e
temperatura, nos limites biológicos, mais ela tem sua taxa
aumentada.
No entanto a respiração oxidativa ou
mitocondrial, que
ocorre nas mitocôndrias, e sem cessar nas células
vivas
das plantas superiores, também aumenta com a temperatura,
que
deverá também aumentar com o efeito estufa e
assim os
ganhos não serão significativos, pois tais
plantas
são muito mais sensíveis a temperaturas elevadas
do que
as plantas eficientes, de metabolismo C4, que não
fotorrespiram,
e apresentam dois tipos de cloroplastos, sendo menos
sensíveis
ao incremento da temperatura do ar.
Desta forma, com o incremento de pelo menos dois graus até
2035,
ou mais, dependendo do consumo diário de
petróleo,
gás natural e carvão mineral daqui para frente,
pois o
mundo anuncia que haverá bem mais automóveis na
Terra
(hoje são fabricados por ano 60 milhões de carros
novos e
a China já é o segundo produtor deles no mundo,
somente
perdendo hoje para o Japão, tendo quase um bilhão
deles
em circulação, alguns com mais de 12 anos de uso,
como o
caso do Brasil, que já é o quinto produtor de
automóvel do mundo, com quase 4,6 milhões de
unidades por
ano) e do incremento do uso do petróleo na agricultura
(há 35 anos se definia a agricultura como a arte de cultivar
os
campos e hoje é a ciência capaz de transformar
petróleo e comida e fibra, este devido ao
algodão, que
quase 65% da área é irrigada e veste mais de 40%
da
vestidura da humanidade), e também na industria em geral e
também do desenvolvimento de outras formas de produzir
energia
barata, tais como eólica, das ondas do mar,
hidrogênio,
agrocombustíveis, etc, poderemos ter a grande maioria das
nossas
culturas sem produzir naquela época, tais como
algodão,
feijão, mamona, diversas fruteiras que também
são
de metabolismo C3, e o milho, que apesar de ser C4, tem crescimento
determinado e floração grupada e assim
será muito
vulnerável ao incremento da temperatura, indiretamente
devido ao
incremento da demanda evaporativa do ar e assim do potencial
hídrico do ar, que será cada vez mais negativo,
com o
incremento da temperatura.
Além de reduzir a oferta de alimentos e fibras na
região,
o aquecimento global deverá promover problemas
sérios na
produção de flores e frutas, além da
redução do turismo científico na
região,
casos do algodão colorido, gergelim orgânico, este
também é uma planta C3, entre outras
possibilidades.
Artigo:
Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão
Dalmo Oliveira - Jornalista (MTb/PB N.º 0598)