A Embrapa Algodão, com apoio do Banco do Nordeste, concluiu
no
ano passado uma pesquisa onde ouviu a opinião de 120
produtores
de mamona em sete Estados do Nordeste e o Norte de Minas
Gerais.
O objetivo do estudo foi verificar a situação da
cultura
da mamona, destacando-se as condições
técnicas de produção da mamona,
além dos
seus aspectos sociais. Para a maioria dos produtores (57%)
entrevistados, a produtividade é a característica
de
maior importância na cultivar a ser plantada.
“No Nordeste brasileiro predominam plantio de mamona em
áreas inferiores a cinco hectares, com
exceção do
Estado da Bahia e o Norte de Minas Gerais. O baixo preço do
produto no mercado é o mais grave problema da cadeia
produtiva
da mamona no Nordeste brasileiro. O mais importante aspecto da cadeia
produtiva da mamona, na ótica dos próprios
produtores,
é a presença de semente de alta produtividade. Um
percentual de 40% dos produtores admitem que as sementes de mamona
utilizadas para o plantio provêm do governo
estadual”,
comenta o pesquisador Vicente de Paula Queiroga, autor do estudo.
A pesquisa avalia que a cultura da mamoneira no Nordeste brasileiro,
maior região produtora de mamona do País, ainda
apresenta
sérios problemas devido, sobretudo, há
carência de
oferta de semente melhorada com qualidade, havendo,
conseqüentemente, degenerescência generalizada dos
materiais
cultivados, com predominância de variedades locais pouco
produtivas, deiscentes, de porte alto, tardias, baixo teor de
óleo e susceptíveis ás principais
doenças
que ocorrem na região.
“Vários problemas inerentes á cultura
da mamoneira
já foram solucionados pelo melhoramento genético,
dentre
estes são citados: aumento de produtividade e do teor de
óleo na semente, diminuição do porte
da planta
para facilitar a colheita mecânica e do grau de
deiscência
do fruto a fim de evitar o desperdício no campo e
proporcionar
menor número de colheita, e aumento do nível de
resistência a algumas das principais doenças que
ocorrem
no país”, acrescenta Queiroga.
Ele diz que o projeto teve como objetivos promover a
padronização das sementes de mamona da cultivar
BRS 149
Nordestina, buscando a pureza varietal obtida pela
eliminação das fontes de contaminantes e
também
identificar a qualidade de sementes de mamona disponibilizadas no
mercado, utilizadas pelos agricultores nos principais
municípios
produtores de mamona da região Nordeste.
A Embrapa Algodão instalou no Perímetro Irrigado
de
Sumé (PB) um campo de dois hectares para
produção
de sementes pré-básicas de mamona, da cultivar
BRS 149
Nordestina, sendo conduzido por irrigação de
gotejamento.
“Devido à presença de contaminantes,
realizou-se a
poda quando as plantas de mamona atingiram o seu estágio de
maturação, conseqüentemente foi
descartada a
primeira colheita e se instalou um segundo ciclo da cultura”,
relata o pesquisador.
O projeto recebeu o título de
“Produção de
sementes pré-básicas e básicas de
mamona para a
região Nordeste e levantamento da qualidade
fisiológica
das sementes em uso pelos produtores”, e foi complementado
pela
pesquisa de campo com os produtores, para quem foi aplicado um
questionário preestabelecido com variáveis
agronômicas e sócio-econômicas, visando
o
levantamento do perfil dos produtores de mamona que estão
destinando sua produção de bagas para atender o
mercado
energético do Programa Nacional de Biodiesel.
A estratégia do projeto era a
implementação de um
programa de desenvolvimento da lavoura familiar com base na mamona,
para gerar renda complementar segura para as famílias
envolvidas, por se tratar de uma cultura resistente á seca
em
comparação as lavouras de subsistência
de
feijão e milho. “O cenário existente
é
bastante propício para inclusão dos pequenos
agricultores
do Nordeste no arranjo produtivo da mamona para atender a grande
demanda das usinas de biodiesel já instaladas na referida
região”, explica o pesquisador da Embrapa.
Queiroga afirma que a garantia de compra da
produção dos
agricultores familiares nordestinos tem provocado um crescimento do
número de agricultores dispostos a produzir mamona.
“No
entanto, a imagem que tem predominado é a dos produtores de
mamona da Bahia, responsáveis por 85% da
produção
de mamona no Brasil, onde predomina um sistema de
produção com uso de baixo nível
tecnológico
havendo, conseqüentemente, degenerescência
generalizada dos
matérias cultivados, com predominância de
variedades
locais pouco produtivas, deiscentes, de porte alto, tardias, baixo teor
de óleo e susceptíveis as principais
doenças que
ocorrem na região”, acrescenta.
Para Vicente, a importância da cultura da mamona na economia
do
Semi-Árido do Nordeste brasileiro, onde vivem, segundo
estudos
da FAO, comunidades das mais pobres do Brasil, está em sua
capacidade de gerar renda para os agricultores familiares dessa extensa
área nordestina, mesmo nas condições
de atraso
tecnológico em que a mamona ainda é cultivada na
Bahia,
constituindo-se em fator de sobrevivência e
fixação
para a população rural.
Foram selecionados, para o estudo, sete Estados do Nordeste
(Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Ceará,
Alagoas, Sergipe e Bahia) e o Norte de Minas Gerais, que faz parte da
referida região. Os municípios selecionados
estão
zoneados de acordo com o trabalho de zoneamento da mamona publicado
pela Embrapa Algodão. “A disponibilidade de
recursos
financeiros disponíveis para aplicação
dos
questionários limitou em 15 produtores o número
da
amostra em cada estado. Estes produtores foram selecionados de forma
aleatória, resultando em 120 produtores entrevistados,
média de cinco em cada município”,
detalha o
pesquisador.
O estudo procurou levantar questões relacionadas
à
situação da mamona na região, como o
tipo de
mão-de-obra utilizada.
Situação
das Propriedades
Nas amostras dos Estados da Paraíba, Ceará e
Sergipe,
constatou-se que a média de área plantada com
mamona
variou de 4,2 a 5,5 hectares. O Estado da Bahia apresentou a maior
área plantada, 28,3 hectare (em todas amostras dos
questionários aplicados na Bahia, a mamoneira é
plantada
consorciada pelos produtores, sendo os espaçamentos amplos
variados entre fileiras de 6m a 7m), seguido do Norte de Minas Gerais
com 9,8 hectares.
“Já nos Estados de Alagoas, Rio Grande do Norte e
Pernambuco as médias de área plantada foram as
menores
(1,0, 2,0 e 2,2 hectares, respectivamente). Este parâmetro
reflete uma característica importante de que a ricinocultura
nas
amostras é praticada por pequenos agricultores, que exploram
a
mamona em pequenas áreas, cuja média geral foi
7,3
hectares”, revela Queiroga.
Quando os produtores entrevistados foram indagados sobre sua
experiência com mamona, nos Estados da Bahia e do
Ceará
ocorreram as maiores médias de tempo de
experiência (10,2
e 23,5 anos, respectivamente). Nos demais Estados as médias
de
experiência com a cultura variaram de 1,2 a 4,9 anos.
“Este
fato significa que a mamona nas amostras desses estados vem tendo a
participação de novos agricultores, devido ao
Programa
Nacional de Biodiesel que ganhou força nos
últimos
anos”, analisa o especialista.
Situação
da Mamona
Em relação à
ampliação de
áreas para o cultivo dessa oleaginosa, a pesquisa observou
que a
maioria das amostras levantadas nos Estados de Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e
Bahia teve
um incremento de área plantada com mamona, sendo que nos
Estados
de Pernambuco e Alagoas estas áreas foram ampliadas em 90 e
100%, respectivamente. “Já para os Estados de
Sergipe e
Norte de Minas Gerais houve abandono da área de mamona pelos
produtores. Provavelmente, não houve incentivo por parte do
Governo para atender a fase de condução da
cultura,
principalmente no controle das pragas e doenças, que tem uma
influência marcante na elevação dos
custos de
produção da mamona”, diz Queiroga.
Ele explica que quando tal
situação
ocorre o produtor é obrigado a abandonar a lavoura em
decorrência do alto índice de
infestação das
pragas ter comprometido a produtividade da referida cultura.
“Outras situações frustrantes podem
ocorrer com os
produtores da referida região, quando há atraso
na
liberação dos recursos financeiros pelos bancos
oficiais
ou quando os inseticidas enviados pelo Governo chegam demasiadamente
tarde, tornando inviável para o produtor prosseguir com as
pulverizações para combater as pragas”,
comenta.
Com relação à questão do
tipo de
mão-de-obra utilizada na ricinocultura, os resultados da
pesquisa da Embrapa mostram que, praticamente em todas amostras dos
Estados estudados, os produtores utilizam a mão-de-obra
familiar, principalmente nos trabalhos de plantio, tratos culturais,
colheita e beneficiamento dos frutos da mamona.
Exceção
ocorre no Estado da Bahia onde predomina o uso de
mão-de-obra
familiar em conjunto com a assalariada. “Deve-se evidenciar
que
as informações obtidas nas amostras destacam o
elevado
papel social desempenhado pela cultura da mamona, por gerar emprego e
renda no meio rural”, acrescenta Vicente Queiroga.
Problemas da
Mamona
O baixo preço do produto no mercado continua sendo o maior
fator
limitante para a expansão das áreas cultivadas
com
mamona no Nordeste. Este resultado era esperado em virtude de que o
maior gargalo apresentado na agricultura, em geral, tem sido a
questão de mercado. “Na pesquisa realizada nas
amostras
levantadas com os produtores dos Estados analisados ficou evidenciado
uma oscilação significativa no preço
de um quilo
de grãos de mamona (baga), variando entre R$ 0,30 e R$ 0,60,
dependendo das condições de mercado de cada
município”, diz Queiroga. Ele avalia
que,
Infelizmente, estas situações de produtividade
elevada da
mamona com alto nível tecnológico e de
preços de
mercado satisfatórios não são comuns
para todos os
produtores do Nordeste.
Os produtores entrevistados apontaram ainda, como principais problemas
levantados “a falta de financiamento oficial do
Governo” para os Estados da Paraíba, Rio Grande do
Norte,
Ceará e Alagoas, enquanto para os Estados de Pernambuco e
Sergipe, o segundo problema para os produtores foi “a
dificuldade
de beneficiamento dos frutos da mamona”.
Já na amostra levantada no Estado da Bahia foi assinalado
que
seu segundo problema é a questão “das
irregularidades das chuvas”, enquanto no Norte de Minas
Gerais
ficou evidenciado “a falta de variedades mais
produtivas”
como segundo problema. “A não disponibilidade de
sementes
melhoradas de elevada pureza genética tem levado o produtor
do
Nordeste a utilizar variedades locais pouco produtivas, deiscentes, de
porte alto e tardio, baixo teor de óleo e
susceptíveis as
principais doenças que ocorrem na região.
É
necessário que o produtor de mamona tenha acesso as sementes
da
cultivar BRS Nordestina, desenvolvida pela Embrapa Algodão
para
alcançar produtividade de 1500 kg por hectare, quando
produzidas
em condições edafo-climáticas
satisfatórias”, opina o pesquisador.
Com relação ao aspecto de irregularidades das
chuvas na
região do semi-árido do Nordeste, a Embrapa tem
recomendado utilizar as cultivares de porte médio (BRS
Nordestina ou BRS Paraguaçu) que têm maior
adaptação às
condições do
semi-árido por apresentarem um sistema radicular mais
profundo e
desenvolvido, cujas características lhes conferem maior
tolerância aos efeitos da estiagem. Em alguns Estados do
Nordeste, a cultivar BRS Paraguaçu tem se comportado melhor
ao
estresse hídrico em comparação a BRS
Nordestina.
A pesquisa avaliou também o grau de dificuldade de
beneficiamento manual da produção, sendo que os
produtores dos Estados de Pernambuco e Sergipe consideram que o
batimento dos frutos da mamona com vara constitui-se num mecanismo
bastante precário, em razão de ser uma
árdua
tarefa com baixo rendimento em comparação ao
sistema
mecânico (manual ou elétrico). “Devido a
falta de
recursos dos pequenos produtores para comprar o equipamento
mecânico, a melhor solução seria a
doação do equipamento pelo Governo para atender
toda
comunidade de produtores de um determinado município,
reunidos
através de cooperativas ou associação
de
produtores”, acrescenta Vicente.
Comparando-se os resultados entre as amostras dos Estados pesquisados,
verificou-se que os principais problemas por ordem de média
percentual foram: baixo preço do produto no mercado, falta
de
incentivo do Governo, irregularidades das chuvas, carência de
sementes melhoradas, dificuldades de beneficiamento, falta de
variedades produtivas, organização da cadeia
produtiva,
problemas de mão-de-obra e a
substituição da
mamona por outro tipo de cultivo. Na amostra do Norte de Minas Gerais
foi sugerido a substituição da mamona por outra
cultura
mais lucrativa, no caso o algodão.
O que é
mais Importante para o Produtor
Nas perguntas feitas para os produtores de mamona nos Estados do
Nordeste, sobre o que era mais importante para o produtor, a
questão relativa à
aquisição de sementes de
alta qualidade e produtivas obteve 19,6% das respostas. “Na
realidade, os produtores têm consciência de que
alguns
aspectos técnicos podem trazer grandes benefícios
para a
cultura da mamona, caso algumas medidas de interesse do produtor fossem
implementadas na região com o apoio dos
órgãos de
extensão e de pesquisa do governo, o que poderia incrementar
a
geração de emprego e renda no
semi-árido”,
finaliza Vicente Queiroga.
POR: Vicente
de Paula Queiroga e Dalmo Oliveira