Mamona
pode se
transformar rapidamente em commodity estratégica nacional
A cultura da mamona tem um potencial ainda inexplorado para a economia
brasileira. Apesar dessa oleaginosa ter entrado na pauta nacional para
a produção de biodiesel, ela tem uma
importância
crescente também na cadeia ricinoquímica e em
outros
setores da indústria. Isso pode ser constatado pelo grande
número de investidores do setor que estarão em
Salvador,
entre os dias 04 e 07 de agosto, participando do 3º Congresso
Brasileiro da Mamona.
“A produção de óleo da
mamona pode
tranqüilamente crescer para 200.000 toneladas
métricas,
beneficiando a agricultura familiar e o parque industrial instalado. O
que precisamos realmente hoje no país é
aumentar a
safra e a produtividade da cultura no campo e para isso basta que os
resultados da pesquisa que Embrapa desenvolve alcancem o
produtor”, diz Adrian Hänzi,
diretor-executivo do
Grupo Bom Brasil.
Uma prova do crescimento da demanda pelos derivados da mamona foi a
importação de dez mil toneladas
métricas de
óleo de mamona da Índia feita pela empresa
dirigida por
Hänzi no primeiro semestre deste ano. Pelo levantamento da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a
produção
nacional deve girar em torno das 70 mil toneladas em 2008, o que
não atende a demanda pelo produto no mercado interno
nacional.
“Os derivados de mamona para a ricinoquímica
agregam mais
valor ao óleo de mamona. Nossa empresa continua investindo
em
novos produtos e melhoria de processos. Para se ter uma
idéia,
só neste ano já foram investidos mais de 500 mil
reais”, revela o industrial. Hänzi analisa que a
safra
brasileira de mamona precisa crescer, porque a demanda
internacional esta crescendo, sobretudo na China, devido a alta dos
preços de petróleo e porque Índia, o
maior
produtor mundial de mamona, precisa produzir comida, mais
óleos vegetais comestíveis, e portanto o
crescimento da
safra neste pais começa a ficar limitado.
“Precisamos juntar os esforços entre Embrapa,
Secretarias
estaduais de agricultura, MDA, Conab, indústrias,
municípios e agricultores para trabalhar as
deficiências
do setor. Considero que é uma grande oportunidade de gerar
renda
para o campo, e para todo o setor, uma oportunidade que
não deve ser desperdiçada. A Embrapa deve, na
minha
opinião, fazer um programa de pesquisa e
promoção
da mamona igual que a Índia tem feito nos últimos
35
anos, com melhoria permanente da semente, em beneficio do
agricultor”, defende o executivo.
Vantagens da
mamona
Adrian Hänzi diz que o óleo extraído da
mamona
é “único” por causa de sua
composição química especial, rico em
ácido
graxo em sua forma hidroxilada. “Ele confere uma grande
versatilidade e pode substituir derivados de petróleo, tendo
como grande vantagem o fato de se tratar de uma fonte de energia
renovável. O óleo da mamona está hoje
na
composição de cerca de um terço das
graxas para
motores. Ele também é utilizado na
composição de tintas, cosméticos,
detergentes,
pigmentos, colas, resinas, poliuretanos, peças automotivas,
cabos para telefonia etc. “Há uma pesquisa na USP
que
desenvolveu próteses à base do óleo da
mamona,
ficando comprovado que esse material agride muito menos o corpo
humano”, acrescenta.
O empresário é um ardoroso defensor da
viabilidade
técnica do óleo da mamona, mesmo tendo em conta
que sua
produção atual ainda é mais
“custosa” do que a da maioria das
oleaginosas por ter
recebido pouco apoio dos órgãos governamentais
para o seu
desenvolvimento e também por ser uma cultura de pouco volume
de
produção. Hänzi considera que o
óleo de
mamona pode ser utilizado na produção do
Biodiesel
(misturado a outros óleos vegetais) como mecanismo para
regular
o preço em favor do agricultor garantindo ao mesmo um
preço mínimo pelo qual poderá vender
para este
segmento. “O foco deve ser o agricultor e não o
percentual
mínimo de biodiesel da mamona que o governo
considerar que
deve ter na matriz energética do pais. Quando o agricultor
estiver bem, a industria estará bem, ou seja precisa ocorrer
uma
relação ganha-ganha”, comenta Adrian,
que, neste
sentido considera equivocada a posição
da
Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e
Biocombustíveis (ANP), ao não recomendar o
biodiesel da
mamona, indicando sua mistura com outros óleos para
diluí-lo no uso de motores automotivos. Na sua
opinião o
governo brasileiro acertou ao dar o foco da
produção
inicialmente na agricultora familiar.
Na avaliação de pesquisadores da Embrapa
Algodão,
a instabilidade de preço da mamona no mercado interno
é o
principal fator de inibição ao cultivo da
oleaginosa em
escalas maiores, extrapolando o cultivo no âmbito da
agricultura
familiar. A partir do momento que houver segurança da cadeia
produtiva o plantio comercial da mamona tende a se expandir
rapidamente, avaliam os especialistas que pesquisam essa oleaginosa.
Para o pesquisador Liv Soares, especialista no assunto, a cadeia
produtiva da mamona, do ponto de vista agronômico, vive hoje
uma
situação semelhante a vivida pela soja na
década
de 70, quando não havia ainda um mercado consolidado que
garantisse a absorção da
produção.
REDAÇÃO:
Dalmo Oliveira - Registro profissional. MTb/PB N.º 0598