Economistas,
agrônomos e outros pesquisadores começam avaliar
viabilidade econômica, social e ambiental de culturas que
produzem óleos.
Estudar a viabilidade sócio-econômica e ambiental
das
cadeias produtivas da soja, da mamona, do dendê, do girassol
e da
canola para a produção de biodiesel. É
esse o
desafio colocado para um grupo multidisciplinar de pesquisadores da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e que
começa a ser encarado em caráter de
urgência em
unidades de pesquisa espalhadas por todas as regiões
brasileiras.
Segundo a pesquisadora Suzana Maria Valle
Lima, especialista em Sociologia das
Organizações, a
pesquisa em rede pretende medir o desempenho das cadeias produtivas das
culturas mais importantes para o desenvolvimento de um programa
nacional de biodiesel. Ela esteve em Campina Grande (PB) no final de
março, dando palestra para pesquisadores da Embrapa
Algodão, que devem se envolver na análise da
cadeia
produtiva da mamona.
O projeto teve início em 2006 e tem previsão de
conclusão para 2008. O produto desse trabalho deve ser um
livro
com os resultados das avaliações e a
comparação de competitividade entre as cadeias.
“Estamos elaborando um estudo de
prospecção, isto
é, um estudo da situação atual e um
estudo de
futuro para cada cadeia, porque é preciso considerar o gap
temporal da pesquisa, porque o produto das pesquisas vai estar
disponível só em cinco seis anos. Pode ser
até que
os cenários se alterem nesse intervalo”,
diz Lima.
A base da pesquisa é verificar os indicadores de desempenho
de
cada cadeia produtiva a partir da avaliação dos
potenciais de eficiência, qualidade, competitividade,
equidade e
sustentabilidade. O item equidade merece destaque porque é
através dele que os pesquisadores vão observar se
a
tecnologia gerada possibilitou a geração de renda
equilibrada entre os diversos segmentos que participam das cadeias.
Na avaliação da eficiência, por
exemplo, os
pesquisadores querem saber se as tecnologias disponíveis
para o
processamento de óleo garantem a rentabilidade
necessária
para sustentar a cadeia produtiva. A qualidade dos óleos
produzidos tem um peso importante no estudo. Sabe-se, nesse sentido,
que o óleo da soja possui um percentual elevado de iodo,
aquilo
que os técnicos chamam de “rancidez”.
Esse é
um fator desfavorável ao biodiesel
originário da
soja, dizem os especialistas.
Outro aspecto importante é a medição
do
balanço energético (quanto cada cultura consome
de
energia para produzir bioenergia). Nesse aspecto a soja
também
leva desvantagem já que essa relação
fica em torno
de 1.42, ou seja, ela, praticamente, não consegue sequer
dobrar
a quantia de bioenergia que consome para realizar a
transformação dos grãos em
óleo. Nesse
quesito, a cana-de-açúcar é
campeã,
já que seu rendimento chega a 8,3 vezes os insumos que
utiliza
para gerar seu biodiesel.
Algumas culturas apresentam outros tipos de problema, como a mamona que
gera junto com o biodiesel um sub-produto que não tem mais
mercado: a glicerina. “O mercado de glicerina está
saturado no Brasil”, garante Suzana Lima.
Uma outra preocupação dos pesquisadores se
relaciona com
a dicotomia entre o aproveitamento de algumas culturas para
alimentação ou para a
geração de
bioenergia, a exemplo da soja, canola, girassol e do dendê.
Mercado
- O Brasil consome anualmente cerca de 42 bilhões de litros
de
diesel. Grande parte desse volume vai para os transportes, algo
em torno de 33,73 bilhões litros/ano
(80,3%);
6,84 bilhões litros/ano (16,3%) é consumido pela
agricultura. O setor industrial precisa de 0,92 bilhão
litros/ano (2,2%); A produção de óleo
de
dendê é tão incipiente que o
país precisa
importar o produto da Malásia, maior produtor mundial. O
mercado
interno ainda carece de uma Importação de diesel
de 6% a
8% do consumo. Para a produção do diesel dos
tipos B2 ou
B5 são necessários de 840 milhões a
2,1
bilhões de litros por ano de biodiesel.
Um outro dado importante no mercado nacional de óleo
é
que o país só consegue produzir pouco mais de
oito
milhões de metros cúbicos de óleos e
gorduras,
enquanto que nossa demanda entre 2004 e 2005 foi de quase 40
milhões de metros cúbicos desses produtos.
Comparando as cadeias produtivas fontes de biodiesel, nota-se que o
dendê ganha disparado, de culturas como a mamona e a soja,
quando
o quesito é rendimento da tonelada por hectare. Enquanto ele
pode alcançar até seis toneladas, a mamona chega
no
máximo a uma tonelada de óleo por hectare
plantado, e a
soja a 0,6. Em compensação a mamona tem um
rendimento
bruto de óleo de até 45%, enquanto o
dendê
só consegue alcançar 26%, no máximo.
É esse
tipo de comparação que os pesquisadores devem
detalhar
nos próximos meses, para indicar as culturas mais
viáveis
ao longo prazo.
Redação: Dalmo Oliveira - Jornalista (MTb/PB
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