O pinhão manso (
Jatropha curcas)
é uma planta arbustiva da família das
Euforbiáceas
possivelmente originária da América, que ocorre
de forma
espontânea em diversos estados do Brasil. No passado, o
pinhão manso já foi cultivado em pequena escala
em alguns
países, inclusive no Brasil, mas atualmente é uma
cultura
de pequena expressão mundial. É encontrado
vegetando de
forma espontânea, mas também em cercas-vivas ou
próximo a residências, onde tem valor
folclórico ou
aplicações medicinais.
Com o advento do Programa Brasileiro de Biodiesel, o pinhão
manso foi incluído como uma alternativa para fornecimento de
matéria-prima. Esta escolha baseia-se na expectativa de que
essa
planta possua alta produtividade de óleo, tenha baixo custo
de
produção por ser perene e seja extremamente
resistente ao
estresse hídrico, o que seria uma vantagem significativa
principalmente na região semi-árida do
país.
No entanto, causa grande apreensão aos técnicos
envolvidos com a pesquisa agrícola no Brasil , o incentivo
ao
plantio do pinhão manso em extensas áreas, pois
é
uma cultura sobre a qual o conhecimento técnico é
extremamente limitado. Grande parte das
informações
divulgadas sobre a cultura provém de fontes pouco
confiáveis, principalmente da Internet, em
páginas de
empresas privadas, onde as vantagens da planta são
exaltadas. A
seguir, citam-se alguns tópicos que merecem
atenção sobre a cultura:
- Em
diversos países da
América, África e Ásia há
programas
oficiais ou iniciativas particulares incentivando o plantio de
pinhão manso para produção de
óleo, sempre
visando osbiocombustíveis, mas em nenhum deles o
pinhão manso é uma cultura tradicional,
nem existem lavouras bem estabelecidas (com pelo menos 5 anos) onde se
possa confirmar sua produtividade e rentabilidade de forma
confiável;
- Seja
no Brasil ou em outros
países, não foram encontrados relatos de
experimentos com
validade científica de longa duração
que informem
sobre a produtividade do pinhão manso em
condições
de campo; há somente
estimativas feitas sem metodologia adequada ou por métodos
questionáveis,
tais como extrapolar a produção de uma planta
isolada
para produtividade numa lavoura comercial; a maior parte dos trabalhos
científicos sobre pinhão manso são
estudos de
laboratório ou casa-de-vegetação sobre
temas
específicos, tais como fisiologia, toxicidade de suas
partes,
produção de mudas, tecnologia de sementes,
transesterificação do óleo etc;
- O
pinhão manso ainda não foi totalmente domesticado
e não
existe nenhum programa de melhoramento genético
bem estabelecido no mundo que tenha resultado em, ao menos,uma cultivar
que pudesse ser cultivada com maior segurança;
- A
cultura não possui um sistema de
produção minimamente avaliado a campo, para que
se possa
recomendar a forma de propagação (sementes,
estacas,
mudas), a população de plantio,
adubação,
como e quando podar, como e quando fazer a colheita etc;
- Em
observações preliminares
que estão sendo feitas em lavouras cultivadas em diversas
regiões do Brasil, nota-se que a planta é muito
atacada
por doenças (virose, oídio nas folhas, caules e
flores,
fusariose, podridão do sistema radicular e outras) e pragas
(cigarrinha, ácaro branco, trips, broca do tronco,
percevejo,
cupim e outras);
- A
maturação dos frutos
é muito desuniforme, o que obriga os produtores a realizar
inúmeras passagens na lavoura durante a fase de
produção, o que pode aumentar significativamente
os
custos de produção;
- No
Brasil, não há mercado estabelecido para
pinhão
manso; a indústria de extração
tradicional
possivelmente não se disporá a processar pequena
quantidade dessa semente, pois necessitaria ajustar suas
máquinas; há o risco de haver um ou poucos
compradores
para o produto, o que pode
levar à prática de
preços muito baixos, o que se agrava por se tratar de uma
cultura perene, na qual o produtor não tem a
opção
de, no ano seguinte, migrar para uma cultura mais rentável,
vendo-se forçado a aceitar o preço que a
indústria
oferecer; mesmo considerando a grande demanda para o biodiesel, essa
fragilidade do produtor não muda, pois se ele dificilmente
terá opções de venda além
da
indústria de extração mais
próxima.
- Não
há no Brasil
áreas contínuas de produção
de
pinhão manso para que seja feita
avaliação da
viabilidade econômica deste cultivo até a
estabilização da produção,
e mesmo as
estimativas iniciais feitas por consultores têm indicado que
a
renda bruta por hectare é muito baixa para ser
opção de renda.
- As
instituições
bancárias ainda não estão preparadas
para
financiar o plantio de pinhão manso, pois não
há
garantia técnica para os produtores.
Diante deste cenário, conclui-se que no Brasil ainda
não
há tecnologia validada suficientemente para que se possa
plantar
pinhão manso de forma racional, e por isso recomenda-se aos
produtores rurais que não cultivem grandes áreas,
pois o
risco de insucesso é alto.
Reafirma-se a crença no alto potencial produtivo e
consideráveis vantagens que o pinhão manso
possui, e a
esperança de que essa oleaginosa, no futuro, tenha
importante
participação no fornecimento de óleo
para
biodiesel. Neste sentido, diversas Unidades Descentralizadas da
Embrapa, instituições de pesquisa e universidades
do
país, contando também com parceria com outros
países, já estão trabalhando no
desenvolvimento de
tecnologia para o pinhão manso, incluindo a
criação de bancos de germoplasma, experimentos a
campo,
estudos em casa-de-vegetação e em
laboratório. No
entanto, por se tratar de uma planta perene, que só
estabelece a
produção após o quarto ano, estima-se
que
serão necessários pelo menos cinco anos para que
se
tenham informações mais seguras sobre a cultura.
Enfatiza-se ainda a necessidade de reforçar os investimentos
em
pesquisa para essa cultura, e sua manutenção por
longo
prazo, para que as atividades possam chegar a resultados definitivos,
pois a interrupção desse apoio financeiro durante
a
execução do trabalho pode inviabilizar todo o
processo.
EQUIPE DE
PESQUISADORES
RESPONSÁVEIS PELO MANIFESTO:
Liv Soares Severino - Embrapa Algodão
Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão -
Embrapa Algodão
Nilton Junqueira - Embrapa Cerrados
Marcelo Fidelis - Embrapa Cerrados
João Flávio Veloso - Embrapa Milho e Sorgo
Nívio Poubel Gonçalves - EPAMIG
Heloisa Matana Saturnino - EPAMIG
Renato Roscoe - Embrapa Agropecuária Oeste
Décio Gazzoni - Embrapa Soja
Jason de Oliveira Duarte - Embrapa Milho e Sorgo
Marcos Drummond – Embrapa Semi-árido
Maiores
Informações: Embrapa Algodão
Pesquisador: Dr. Liv Severino Soares, telefone: (83) 3315-4354
Pesquisador: Napoleão Beltrão, telefone: (83)
3315-4304