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Embrapa intensifica apoio ao cultivo do sisal

Para Euclides da Cunha, "o sertanejo é, antes de tudo, um forte". Se ele tivesse conhecido a disposição de uma pequena cidade sertaneja da Bahia, com certeza teria dito que o sertanejo é, antes de tudo, um valente. Essa é a impressão que se guarda depois de visitar o município baiano recordista na produção de sisal (90 mil toneladas/ano), encravado em meio a outros 32 municípios no semi-árido, que foi batizado de Valente por causa de um boi brabo famoso na região.

A paisagem é inóspita como em qualquer lugar nos milhares de quilômetros do semi-árido nordestino. Em Valente ainda não pega celular, mas o desenvolvimento local do município e região proporcionado pelo cultivo da planta fibrosa é evidente, mesmo numa realidade local em que 67,% dos estabelecimentos agrícolas possuem até 10 hectares e 18,9% possuem áreas entre 10 e 100 hectares. Na praça central está em fase de inauguração o prédio do Centro Cultural da APAEB (Associação dos Pequenos Produtores do Município de Valente), financiado com recursos do BNDES, que investiu R$ 120 mil na obra.

O Centro Cultural é o mais recente exemplo do poder de organização que essa associação conseguiu estimular junto à população e mais especificamente a seus quase 1.500 associados.
Fundada no início da década de 80, a APAEB gera hoje mais de 800 empregos diretos em Valente, movimentando milhões de reais na economia local, em forma de salários e compra de matéria-prima dos agricultores. Para chegar a esse nível, a entidade interveio diretamente na economia da região, procurando agregar mais valor aos produtos dos pequenos agricultores.

Hoje, o preço do quilo do sisal pago ao produtor é de R$ 1,18 (tipo extra). "Ainda há atravessadores atuando na região, mas o pequeno agricultor sabe que tem um preço garantido se quiser vender seu sisal à APAEB", diz Luiz Mota Souza, vice-presidente da associação.

Caminhando pelas ruas de Valente, Luiz é mais conhecido do que o atual prefeito da cidade. "Se a eleição fosse hoje, nosso candidato já estaria eleito", comenta ele, que se diz avesso a cargos políticos, mas que tem como certa a vitória de seu companheiro de diretoria, Ismael Ferreira de Oliveira.

Parcerias - O site da APAEB conta que a primeira atividade econômica foi um modesto posto de vendas. "Um espaço onde os associados colocavam à venda os produtos da agricultura familiar e onde ao mesmo tempo eles podiam comprar outros produtos por preços mais baixos, já que não se visava o lucro no empreendimento".

A entidade uniu os produtores para vender em grupo o sisal, principal produto agrícola da região. "Aos poucos, passamos à batedeira de sisal e depois à indústria de tapetes e carpetes, e assim trouxemos o dinheiro que antes ficava na mão de atravessadores e intermediários. Gradativamente, a APAEB foi estimulando a diversificação, através de outros projetos econômicos, como laticínio e curtume, que criam mercado para que os produtores invistam na criação de caprinos e ovinos, animais ideais para as condições econômicas dos produtores e para o clima da região, pois consomem menos água e alimento do que os bovinos", conta Luiz.

Com uma forte influência de setores progressistas da Igreja Católica, a APAEB viu sua semente germinar principalmente em decorrência das parcerias que estabeleceu nesses quase 25 anos de existência. Durante esse período a entidade recebeu a cooperação de entidades como Banco do Nordeste, Cáritas Brasileira, Ceris (Rio de Janeiro), Fundação Doen (Holanda), Pão para o mundo (Alemanha), Fade (Pernambuco), SOS PG (Bélgica), Vitae (São Paulo), Fundação Heinrich Boll (Alemanha), Il Canalli (Itália), Lateinamerika Zentrum E.V (Alemanha), MLAL (Itália), Universidade Estadual de Feira de Santana, BNDES, Cese (Salvador), Disop (Bélgica), Fundação Kellogg (Estados Unidos), Fundo Canadá (Canadá), Manos Unidos (Espanha), Misereor (Alemanha), Moc (Feira de Santana), Simfr (Bélgica), Sudic (Bahia), Winrock Internacional (EUA), CORDAID (Holanda), Fundação Getúlio Vargas (São Paulo), Inter American Foudation (Estados Unidos), Kreditbank (Bélgica), Sabiá, Cultura e Arte Popular (Rio de Janeiro), Schwab Foudation (Suíça), Refaisa (Salvador).

Outra parceria estratégica firmada nos últimos anos está sendo desenvolvida com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), através da Embrapa Algodão, com sede em Campina Grande (PB). Técnicos e pesquisadores da estatal vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estão dando suporte a pesquisas agronômicas com a cultura do sisal aos produtores vinculados à APAEB.

A ação da Embrapa, agora com o financiamento do programa Fome Zero, tem-se concentrado principalmente na orientação do manejo correto da cultura e no aproveitamento integral dos restos culturais para a alimentação animal. Técnicos da estatal introduziram na região a peneira rotativa, para a produção da mucilagem do sisal, utilizada na composição de feno.

"Como se trata de uma região com escassez de alimentação para a manutenção de ovinos e caprinos, a mucilagem do sisal está se mostrando uma excelente alternativa para os agricultores e pecuaristas", diz Isaias Alves, técnico da Área de Negócios Tecnológicos da Embrapa Algodão.

No mês passado a estatal promoveu uma visita técnica a Valente para cerca de 40 pequenos produtores do município de Várzea Nova (BA), para que conhecessem de perto o modelo de desenvolvimento obtido com o sisal. "O que nos chamou atenção foi a silagem, o aproveitamento da bucha, uma coisa que a gente, no nosso município, a gente nunca tinha se dado conta do prejuízo que a gente tinha passado. Fico imaginando quantos animais no passado morreram... a gente com a mucilagem lá, né, os animais morrendo, e a bucha também se perdendo lá porque a gente não tinha conhecimento do que podia acontecer, A gente aproveitava simplesmente a fibra do sisal", lastima Genival Vitório de Amorim, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Várzea Nova.

Genival e seus companheiros voltaram para casa impressionados com o que viram em Valente. No período da manhã eles visitaram a propriedade do produtor José Elias, da Fazenda Sítio do Meio. Ali puderam testemunhar de que forma os restos de fibra podem ser transformados em ração animal. Elias contou que também usa os restos culturais como cobertura morta e falou sobre um problema da cultura: "De 2003 prá cá, morreu muito sisal. Ele começa a amarelecer. Dá tipo uma praga, aí ele começa apodrecendo, a qualidade da folha fica amarela, ele começa apodrecer a cepa, aí morre muito. Aqui na minha roça mesmo eu acho que morreu uns qutro por cento, mais ou menos. E na região morreu muito, aqui também no município do Valente. Teve dono de sisal de ter 100 tarefas de sisal e hoje não tem cinco", relata José Elias.

Em seguida o grupo se dirigiu à Escola Família Agrícola, mantida pela associação. "Na escola criamos animais, como caprinos, galinhas, coelhos e abelhas. Se planta, se faz pesquisa. E toda quinzena o conhecimento adquirido chega na casa dos alunos. É que usamos a pedagogia da alternância, ou seja, o aluno passa uma semana na escola e outra em casa, repassando o que aprendeu. Isso tem feito com que muitas propriedades e famílias progridam", explica Luiz Mota. Ainda na escola o grupo pode ver na prática o beneficiamento do sisal com a peneira rotativa.

No turno da tarde, os visitantes conheceram a unidade de produção de derivados do leite de cabra, outro ponto forte do agronegócio da APAEB, onde é produzido queijo e iogurte. Mas o que chamou mesmo a atenção do grupo foi a visita à fábrica de tapetes e carpetes de sisal da APAEB. Eles presenciaram todo o processo fabril com fibras do sisal, desde o beneficiamento, passando pela coloração, à confecção de tapetes e carpetes. Funcionando todos os dias da semana, durante 24 horas, a fábrica gera 570 empregos diretos. A maior parte da produção é exportada para os Estados Unidos e alguns países da Europa, principalmente Holanda.

Demandas - Segundo Luiz Mota, a demanda atual da região sisaleira de Valente seriam novos aproveitamentos da planta, já que atualmente só se aproveita de cinco a seis por cento de fibra bruta. Segundo os pesquisadores da Embrapa Algodão, no Brasil só se consegue extrair 4% da fibra disponível nas folhas de sisal, uma produtividade muito abaixo de regiões mais competitivas, como México, onde os produtores conseguem preços 30% superiores aos alcançados aqui. "Apenas com o manejo correto do corte das folhas os produtores poderiam evitar perdas de até 40% de produtividade", comenta Odilon Ribeiro, especialista no assunto.

"No início da década de 90 começou a surgir um surto, que pra nós é estranho por não conhecermos a causa dessa doença", comenta o vice-presidente da APAEB. O problema grave a que Mota se refere começa a preocupar também os pesquisadores é uma doença batizada de "apodrecimento do caule", provocada pelo fungo Bothrioplodia. "O fungo tem se espalhado principalmente por causa do uso de facas contaminadas por uma planta doente e utilizada em seguida nas plantas sadias", explica Odilon.

Pesquisa - O pesquisador diz que o monocultivo do sisal não é uma atividade agrícola sustentável no semi-árido, o que exige que essa cultura seja sempre plantada em consórcio com outros cultivos, principalmente algodão, leucena, feijão macassar, milho, mamona, capim bufel, palma forrageira e sorgo.

No exterior, os produtos derivados do sisal têm mercado garantido em setores como a jardinagem, onde o apelo ecológico das fibras de agave, por serem biodegradáveis, ganha terreno a cada dia, em relação aos sintéticos. "Como maior produtor mundial, o Brasil pode ainda ampliar muito suas exportações de produtos derivados do sisal, mas falta uma campanha para promover o sisal brasileiro lá fora", reclama o pesquisador.

A Embrapa Algodão iniciou projetos em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande visando a utilização dos resíduos do desfibramento do sisal na obtenção de materiais para a construção civil, como telhas em substituição ao amianto. Na região de Valente a Embrapa trabalha em parceria com a Universidade Federal da Bahia e com o Sebrae para potencializar o uso de derivados do sisal. Os pesquisadores da estatal vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, dizem que a atual produtividade do sisal, em torno de 700 quilos por hectare, pode aumentar rapidamente para os 1.500 quilos por hectare, com a adoção das recomendações técnicas já disponíveis.

O Brasil é o maior produtor mundial de sisal, com uma produção anual de fibras de cerca de 110 mil toneladas. A Paraíba é o segundo produtor nacional, produzindo 6 mil toneladas de fibra por ano. A fibra é industrializada e convertida em corda, barbante, tapetes, sacos, bolsas, chapéus, vassouras, artesanato e também como componente de compósitos automobilístico.

No ano passado o país exportou 51.354 toneladas de sisal e seus manufaturados, sendo que 51,6% deste volume foi consumido apenas pelos Estados Unidos. Outros grandes comprados internacionais são México e Portugal. A tonelada do sisal preparado chegou a ser vendida por até US$ 300,00 em 2002. Na mesma época, o preço mínimo do sisal bruto para o produtor foi de R$ 0,42 e de R$ 0,46 para o sisal preparado.


Redação: Dalmo Oliveira - MTb/PB N.º 0598
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